Buscas pelo caseiro acusado de triplo homicídio em Corumbá (GO) chegam ao quarto dia. As vítimas Rariane Aranha, a filha dela, Gaysa, e o fazendeiro Roberto de Matos foram sepultadas na terça (30)
As buscas pelo acusado de
assassinar a mulher grávida de 4 meses, a enteada, de 2 anos e 9 meses, e um
fazendeiro, de 73 anos, ultrapassam as 48 horas. Com perfil violento, o caseiro
Wanderson Mota Protácio, 21 anos, mobiliza as forças de segurança do estado de
Goiás e, até o fechamento desta edição, continuava foragido. Moradores dos
municípios goianos de Corumbá, Alexânia e Abadiânia — cidade onde são realizadas
as buscas — estão temerosos quanto ao fato de Wanderson ainda não ter sido
preso e pedem Justiça. Rariane Aranha, de 19 anos, a menina Gaysa e Roberto
Clemente de Matos foram sepultados nesta terça-feira (30/11).
Natural de Governador
Nunes Freire (MA), Wanderson chegou em Goiás para trabalhar como caseiro. Ele
tem familiares em Alexânia e, há 30 dias, foi contratado para trabalhar em uma
fazenda em Corumbá, numa região chamada de Congonhas dos Alves. Wanderson
mudou-se com Rariane e a enteada, a qual ele fazia questão de chamar de filha.
A mulher teve um relacionamento de cinco meses com o caseiro. Aos domingos,
Wanderson tirava folga do serviço e costumava ir para para a casa dos parentes
da namorada, em Corumbá.
O Correio conversou com a
patroa de Wanderson, que relata que o rapaz não demonstrava agressividade e
nunca soube sobre o passado dele marcado por violência. A aposentada Nélia
Fonseca, 61, e o marido são os donos da propriedade e chegaram a receber
indicações de Wanderson para a função. "Aparentava ser uma pessoa do bem.
No início, não sabia mexer com as coisas, como tirar o leite de vaca, mas logo
foi tomando jeito. Era bem ativo, não desconfiávamos do que ele seria
capaz", disse.
Nélia é moradora de
Brasília, mas visita a fazenda frequentemente depois que o marido se aposentou.
Ela conta que no dia do crime, apenas o pai, de 83 anos, estava em casa.
Wanderson, a mulher e a bebê foram para a casa dos parentes ainda cedo e
passaram o dia por lá. No fim da tarde, eles retornaram. "Meu pai estava
na varanda e não notou nada estranho. Eles até acenaram. Estava tudo tranquilo
até então", afirmou a aposentada.
As mortes
O pai de Nélia estranhou
quando Wanderson chegou até a casa dele, a menos de 50 metros, e pediu para que
ele levasse Raniere ao hospital, pois ela estava passando mal. O idoso entrou
na residência para buscar a chave do carro e, nesse pequeno espaço de tempo, o
acusado entrou pelos fundos, pegou uma arma de fogo com seis balas e fugiu.
O proprietário da casa
estranhou o sumiço do funcionário e notou que a porta estava arrombada e a
gaveta aberta, sem a arma dentro. "Ele ligou para a gente desesperado,
falando que tinha algo acontecendo e saímos de Brasília às pressas",
contou Nélia. Armado, Wanderson caminhou até uma outra casa que fica a 250
metros de distância da de Nélia.
Na casa, estavam Cristina Nascimento Silva, 45 anos, e o esposo, Roberto Clemente, de 73. Os dois cumprimentaram Wanderson, e a mulher chegou a oferecer um copo de refrigerante para ele, quando o criminoso sacou a arma e, sem nenhum motivo, atirou contra a cabeça de Roberto, que morreu na hora. Nervoso, o caseiro ordenou que Cristina tirasse as roupas e, com a negativa, atirou contra o ombro dela. "Eu conversei com a Cristina antes da chegada do Samu, e ela contou que ele ainda colocou ela de joelhos e bateu a cabeça dela no chão", explicou Nélia. O estado de saúde da mulher é considerado estável e ela permanece internada.
Wanderson roubou a caminhonete de Roberto, mas abandonou o veículo na estrada poucos quilômetros depois. Quando os policiais chegaram, ainda não sabiam que a namorada e a enteada dele estavam mortas. A porta da residência da família estava trancada e precisou ser arrombada. Os corpos de Raniere e Geysa estavam um lado do outro, no chão da sala.
O Correio esteve na casa
onde aconteceu o crime. No quarto do casal, um facão ficava dentro do
guarda-roupas. Em cima do colchão, havia uma mala com algumas roupas e a bolsa
da bebê, o que poderia indicar que alguém estava colocando roupas nas malas. A
Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) trabalha para elucidar a motivação do
crime.
Moradora de Abadiânia, a
comerciante Terezinha Luísa, 58 anos, levou um susto na tarde de ontem, quando
foi surpreendida por um homem batendo no portão do comércio para pedir R$ 5
para consertar o pneu da bicicleta. "Não associei o rapaz a Wanderson, mas
pelo medo que estamos, eu fiquei em choque. Parece que cada barulho nos
assusta", disse.
O rapaz aparentava ser
jovem e estava de bermuda, blusa e boné. "Estamos mais atentos, é claro.
Deixo o portão sempre trancado e estou prestando mais atenção em qualquer
barulho, qualquer movimento", afirmou.
A pedagoga Pagna Benamor,
52, tem familiares em Abadiânia e passa um período no município goiano. Ela é
mãe de Gabriel Benamor, 23, empresário vítima de latrocínio (roubo seguido de
morte), em 2 de outubro, em Taguatinga. O caso gerou repercussão na época no DF
e os envolvidos no crime acabaram presos. Frequentemente, Pagna faz trabalhos
solidários em Abadiânia e conta que nunca viu tamanha movimentação no
município. "Eu sei e posso falar da dor que é perder um ente querido.
Enquanto continuarem soltando criminosos, vamos ver situações como essa. A dor
é de quem perde, e isso a Justiça nunca vai reparar", desabafou.
Perfil violento
O Correio teve acesso ao
processo criminal em que Wanderson responde por uma tentativa de feminicídio
ocorrida em dezembro de 2019. O processo tramita no Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás (TJGO), e a sentença ainda não foi decretada.
Consta nos autos que
Wanderson chegou em casa, em Goianópolis, sob efeito de drogas e álcool na
manhã de 8 de dezembro de 2019. Agressivo e armado com uma faca, o caseiro
obrigou a irmã da madrasta a entrar em um dos quartos da residência com ele.
Com a negativa, o agressor desferiu vários golpes de faca contra as costas da
mulher. A arma branca chegou a quebrar e, depois disso, ele fugiu pulando os
muros e se escondeu em uma casa próxima. A vítima foi socorrida por vizinhos e
levada ao Hospital Municipal de Goianópolis.
À época, ele foi preso
pela Polícia Militar e encaminhado à Unidade Prisional de Goianápolis. No
próprio depoimento, Wanderson confessou o crime e tentou justificar a agressão
pelo fato de estar embriagado e ter usado cocaína e maconha. Durante o
interrogatório, alegou, ainda, que, "devido ao estado, tinha o intuito
apenas de matá-la, mas não havia motivo de fazer tal ato e só fez pois havia
feito uso de drogas e bebida alcoólica."
Apesar da gravidade dos fatos, o caseiro foi solto pela Justiça em março de 2020, mediante medidas cautelares, como o comparecimento ao Juízo mensalmente para informar a profissão e local de residência, a proibição de frequentar bares e locais de diversão, bem como a proibição de manter contato com a vítima ou por qualquer meio de comunicação.
>>Imagens Divulgação | Reportagem: SBT News | Correio Braziliense